Escrever Ficção: um manual de criação literária

Cristiane Lázaro

Um bom livro, seja ele o gênero que for, romance, novela, contos, é fruto de uma construção de conhecimentos. Não basta apenas dedicar horas escrevendo, é preciso, além de uma boa dose de criatividade, de técnica. Delinear bem o personagem e elaborar suas questões essenciais assim como seus conflitos, estruturar minunciosamente o enredo, delimitar o tempo da narrativa e empregar de forma correta a focalização interna do personagem, são aspectos essenciais em uma narrativa de sucesso.

Com o objetivo de auxiliar os que desejam escrever textos de ficção, Luiz Antonio de Assis Brasil, após acumular anos de trabalho com a Oficina de Criação Literária e como professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS, publicou em 2021 a obra "Escrever Ficção: um manual de criação literária".

Para os momentos de bloqueio criativo, por exemplo, Assis Brasil ressalta: "Se o ficcionista pensar apenas no objetivo imediato do personagem, o fim estará muito próximo do começo. Por isso é que muitas histórias morrem nas primeiras páginas. Se, entretanto, pensar nas motivações, haverá material para trabalhar, capaz de sustentar uma obra de quinhentas páginas". É uma dica importante para quem ainda está na fase inicial construindo a estrutura de uma narrativa. Falando ainda na estrutura e no enredo, o autor destaca que "o conflito não é criado para existir por um momento e desaparecer, como um meteoro. O conflito veio para ficar e agravar-se".

Proveitosas também são as discussões sobre os formatos de focalização (interna em primeira ou terceira pessoa, externa e a onisciente) quanto ao emprego e limitações na história. Chama atenção, ainda, as observações apontadas com relação à descrição do espaço, que podem "ganhar vida" e, segundo Assis Brasil, "podem ser uma ferramenta valiosa quando você precisa levar a história para frente. Assim o ganho é duplo: você mescla narração e descrição, poupando passagens inteiras".

Em todos os capítulos são inseridos exemplos positivos e também negativos de autores e obras célebres, que vão desde os filósofos, a exemplo de Aristóteles, aos mais contemporâneos. A exemplificação sedimenta a compreensão do leitor. Um caso ilustrativo é encontrado na descrição do espaço e de como ele pode "levar a história para frente", extraído do romance Diorama, de Carol Bensimon, ao descrever uma piscina e ao mesmo tempo sintetizar os desajustes da família:

"A piscina é um buraco azul sem sentido, vazia, com uma água rala de chuva no centro e contornos pretos de sujeira, além de um tipo de besouro morto sobre uma folha maior do que ele. Parece mais funda que antes. Piscina vazia é a coisa mais deprimente que pode existir, porque está sempre nos levantando a placa do algo-não-vai-muito-bem. Acabou a infância, o almoço de domingo acabou, brigou um tio com o outro, acabou a paciência para o cloro e o ar livre foi ficando cada vez menos livre, furou o colchão e ninguém se preocupou em comprar outro três vezes sem juros no hipermercado mais próximo, é quente demais no verão e fria demais no inverno, tem folha que cai e doença de água parada e, se é só para olhar pela janela, não vale o trabalho e o custo, tudo tão menos divertido do que a gente imaginava que ia ser para sempre".

Nesse quesito, Assis Brasil sugere também que se explore os cinco sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato. A proposta é inserir detalhes a exemplo da dor, fome, temperatura corporal, sensação de plenitude, de odor entre outros, com a finalidade de preencher o espaço condutor da narrativa.

Enfim, poderíamos aqui abordar vários outros trechos da obra, um trabalho técnico, primoroso e ilustrativo, que transporta o leitor à sala de aula de uma oficina de escrita criativa. Durante todo o percurso do livro, é mencionado um aluno que está escrevendo um romance, e com isso, são debatidas suas dúvidas, bloqueios e crises existenciais. Se é real ou um personagem ficcional, não saberia afirmar, porém retrata muitos momentos que vivenciamos nesse delicioso caminho que estamos percorrendo.


Cristiane Lázaro, nascida em Itapemirim no litoral do Estado do Espírito Santo, ainda na infância se mudou para Cachoeiro do Itapemirim. Apelidada de a capital secreta do mundo, a cidade é o berço do cantor Roberto Carlos e dos renomados escritores Newton e Rubem Braga. Cresceu em meio ao universo das narrativas de Monteiro Lobato e das histórias da Bíblia sempre partilhadas em família. Formou-se em nutrição e dedicou-se à carreira acadêmica e pesquisa cursando mestrado e doutorado em Medicina e Saúde Humana. Em 2014 publicou seu primeiro livro "Conhecimento, Inovação e Organização em serviços de saúde em parceria com outros autores. Ama viajar, conhecer novas culturas, ler, estudar, degustar bons vinhos e não fica sem uma xícara de café. Resolveu cursar teologia, e desde então, gera conteúdo católico para o quadro Diário Católico que vai ao ar de segunda a sexta-feira na Rádio Diocesana FM 95,7 pertencente à Diocese de Cachoeiro do Itapemirim. Portadora de um traço vocal grave, foi convidada pela emissora para apresentar semanalmente um programa cultural voltado à forte colônia italiana do estado chamado Itália Canta. Descobriu o curso de Formação de Escritores da Metamorfose cursos pela rede social, e se inscreveu com o objetivo de lapidar a escrita criativa.

 

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Décio Oliveira Elias,
Rio de Janeiro, RJ

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