Dê uma chance ao livro

Caroline Rodrigues

Todas as pessoas com quem falo concordam com a ideia de que a leitura engrandece as pessoas, das mais diferentes formas. Ainda assim, fico pensando se essas mesmas pessoas passam dos três livros ao ano, que é a média do brasileiro, segundo dados de 2016 (os mais recentes achados em uma busca online). Três livros. E veja bem, isso significa que há pessoas lendo 15 livros em um ano enquanto outras cinco não lêem nenhum.

Neste mês de abril, dia 23, celebra-se o dia mundial do livro e, por isso, pensei em convocar todos e todas para transformar esses dados. Se você se encaixa nessas pessoas que nunca lêem (e se já chegou aqui, obrigada!), ou se lê apenas três livros por ano, quem sabe seja este o momento de virar a página, com o perdão do trocadilho.

Muitas pessoas afirmam não gostar de ler. Tudo bem, ninguém é obrigado a nada, mas os livros abordam literalmente todos os assuntos do mundo. É impossível não encontrar um livro que não seja do seu interesse. Talvez este “não gostar” esteja ligado a leituras obrigatórias de escola, que são, para mim, bastante questionáveis. Em geral, os livros exigidos não condizem com a idade de quem está lendo e tornam-se, por isso, bastante chatos e desinteressantes. Pobres jovens de 14 anos, tentando decifrar não só o vocabulário, mas também a forma de pensar do século 19 com um Machado de Assis na mão. Esse jovem já deveria ter uma boa experiência de leitura para poder apreciar uma obra dessas e todos nós sabemos: isso raramente acontece.

Há também as pessoas que dizem não ter tempo para a leitura. Para mim, esta é a resposta para continuar se enganando. Muito parecido com começar dieta ou exercício físico. Ler é uma atividade difícil, requer prática, e quanto mais leitura, mais descomplicado fica. O vocabulário melhora, a interpretação fica cada vez mais fácil e a vontade de ler só aumenta. Chega um dia em que você sente falta de alguma coisa se não tiver lido. Então, começar a ler dá trabalho, é uma atividade de esforço mental no início, mas que depois só vai.

Ano passado, li mais de 40 livros (posso mandar uma lista de recomendações para quem quiser). Eu trabalho, tenho um filho, faço cursos e me divirto. Algumas pessoas devem pensar que para ler é preciso parar o mundo e eu não concordo. Eu leio em qualquer lugar, estou sempre com um livro na bolsa. Já li de pé no trem, já li em engarrafamento, já li enquanto trabalhava como mesária nas eleições, em restaurante, em sala de professores, em sala de espera, com televisão ligada, com rádio ligado. Claro que, às vezes, o livro não é tão bom e eu me distraio. Mas quando o livro é bom, nada me faz desgrudar o olho dele. Então, é preciso estar preparado para a oportunidade. Carregue algum livro sempre com você. Esta dica é do Stephen King, hein!

Existe também a ideia de que é preciso ler um livro inteiro numa sentada, ou muitas páginas de cada vez. Isso não é verdade. É possível ler um parágrafo ou uma página porque a sua mente vai lembrar exatamente onde você parou, mesmo se você retome a leitura daqui a uma semana. Às vezes, enquanto leio um romance bem longo, gosto de intercalar com alguns contos e, mesmo assim, nunca aconteceu de eu perder o fio da história. Teve até uma vez em que comecei a ler um romance, parei dois meses e, quando retomei, lembrava de quase tudo. Obviamente, isso não é o ideal, mas dá pra fazer.

Agora, apontar a inimiga número 1 do livro é muito fácil: a televisão. Eu ainda sou do tempo em que esse aparelho era o centro das atenções em uma casa e muitos de nós fomos criados de forma a não conseguir entrar na sala sem ligá-la. Quantas vezes ela fica ali, falando sozinha, só por causa dessa mania? Eu adoro assistir a filmes e seriados, faço isso com frequência, mas é preciso dosar e deixar espaço para a leitura.

Talvez o seu argumento seja o preço dos livros. Eu também gostaria que os livros novos fossem mais baratos, com certeza. No entanto, há opções. Toda cidade tem uma biblioteca pública com muitas obras de qualidade. É só fazer uma ficha e aproveitar o acervo. E quase toda cidade tem um ou mais sebos. Esta semana comprei o livro “O Continente 1”, do Erico Verissimo, por quatro reais em uma super promoção de um sebo na minha cidade. Às vezes, também acho que pode ser uma questão de prioridade. Algumas pessoas priorizam a compra de outras coisas e nunca priorizam a compra de um livro. Acham caro pagar quarenta reais por um livro, mas gastam os mesmos quarenta todo mês em outro produto. Não estou, com isso, julgando onde cada um deve gastar o dinheiro, mas será que não é possível priorizar, pelo menos uma vez, a compra do livro?

Uma última sugestão é o uso de audiobooks, principalmente para pessoas que utilizam fones de ouvido ou trabalham dirigindo, por exemplo. Algumas plataformas de música oferecem também o serviço de leitura de livros, além de existir aplicativos específicos para o serviço.

Lembrei agora daquele ditado “trair e coçar, é só começar”; pois acho que ler também é assim. Você vai achar o livro certo, vai se emocionar ou rir. Dê uma chance a um livro neste mês de abril. Quem sabe, no mês de maio você já fique com vontade de ler mais um? E programe outro para o inverno, que é uma época deliciosa para a leitura embaixo das cobertas. Assim, você já está a um passo de bater a nossa meta de mais de três livros ao ano. Ouça o livro chamando e entenda porque os livros persistem, sobrevivem gerações e nos tocam mesmo tendo sido escritos há tantos anos.

 

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