Para-ti, livros e Gabriela

Bruna Sanguinetti

A viagem começou longa. Aeroporto para sair de Porto Alegre. Tinha pouco tempo para descer em São Paulo e voar para a rodoviária no outro lado da cidade. Correr para pegar a mala, pegar carona com a tia até o metrô, passar a mala grande pela catraca, encontrar a estação, procurar almoço e, enfim, ônibus. Agora podia dormir.

Mais seis horas em poltronas confortáveis. Pelo janelão, nem vi a noite chegar. Acordei nas curvas em reforma para Caraguatatuba. Depois da reza forte para não enjoar, o passeio até que foi divertido. O dia fechava suas vinte e quatro horas quando cheguei. Lugar deserto, cidade recolhida. Deixei minhas economias em um táxi e fui para o hostel.

O chuveiro, quebrado; a cama, cheia de areia. Roncos que atravessavam a porta fechada. Mas o café da manhã era na praia. Os cachorros por todos os lados e o cheiro forte de esgoto perdiam a importância depois de comer um bolinho com suco de abacaxi olhando o sol nascer no mar.

Assim começava a jornada na praia histórica de Paraty (ou Parati?). A dúvida na grafia refletia a brincadeira generosa das carrocinhas de pipoca e churros: Para-ti. De qualquer forma, a cidade estava quase inteira só de turistas, aproveitando a Flip. Pessoas velhas, pessoas novas. Pessoas claras, escuras, coloridas. Pessoas daqui. Pessoas dali. Pessoas que leem. Tão bom ver todo mundo lendo! A cultura tinha olhos, ouvidos e boca por lá.

Na livraria da praça, uma neta e uma avó. A pequena queria livro-brinquedo. A sábia disse: “você já está grandinha para esse tipo de livro”. Mas a menina escolheu o livro de colorir da Frozen. Enquanto a neta fazia birra para conseguir o que quer, vi outras duas crianças sentadas no chão. Os irmãos-amigos mergulhados nos livros de figuras e histórias fantásticas. Os pais? Estavam tranquilos. Os filhos-amigos já foram, sem necessidade de permissão, para Terras-do-Nunca.

Então, um grupo de mascarados entrou em ação. Roupas velhas, largas, coloridas-desbotadas, do avesso, em camadas, andavam pelas ruas, por entre livros. Faziam parte da festa.

- Onde está Gabriela? - perguntou o bêbado mascarado.

O vento estava forte e ele quase caiu ao tentar levantar do banco na praça. Estava assim por amor. Os olhos vermelhos. De tanto chorar, será? O nariz da máscara era bastante grande. Um amigo veio buscá-lo, cansado.

- Onde está Gabriela? Até meia-noite eu a encontro!

Mais adiante, um garçom em um bar anunciou a cortesia: um almoço acompanhado do drink com nome Jorge Amado. Lá estava Gabriela, cachaça com cravo e canela, e o bêbado não viu.

 

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Décio Oliveira Elias,
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