Há um tempo já distante, escrevi uma crônica intitulada "Sua vida num outdoor". Era o início da era virtual na minha modesta compreensão. Estávamos todos começando a nos acostumar com a Internet, e a todo o poder que nos era permitido. Na dita crônica, eu, ainda perplexa com o tamanho de possibilidade de exposição para o bem ou para o mal, escrevi a tal crônica me direcionando a uma pessoa qualquer não identificada.
Justamente àquela pessoa ávida de reconhecimento, que vibraria ao ver seu nome num outdoor tal a necessidade de exposição. Ela, talvez, se pudesse, gritaria aos sete ventos "Olhem bem, eu estou aqui! Eu cheguei lá!!! Me aplaudam!!!".
Na crônica, eu a fiz saltar da mediocridade para o ápice da universalidade. E, ao se ver, inteira, praticamente desnuda, cabelos esvoaçantes, projetada naquele outdoor, ela tomba e eu encerro o texto: "Você chegou lá!"
Pois foi algo semelhante que senti, ao me deparar com a atual Inteligência Artificial. Precisei entender do que se tratava e era urgente. Às primeiras informações, me dispus à busca nos meus arquivos daquela crônica referida neste texto. Estamos outra vez começando com algo grandioso? Com a possibilidade de transformação de nossos pensamentos e ideias alcançarem uma máquina de produção de tópicos, ou frases ou ditos, ou seja lá o que for, e nos apresentar a coisa pronta e acabada? Com o mínimo de interferência do nosso sensorial, da nossa capacidade de criar, de transformar os nossos pensamentos em tópicos confiáveis?
Não sou avessa a novidades. Muito pelo contrário. Mas não abro meu coração, assim de chofre, à possibilidade de uma nova e fácil estratégia de escrita. A palavra Inteligência fascina, mas não convence. E o termo Artificial, muito menos. Pode a inteligência se valer de artifícios? Quais seriam? Coerência, estrutura, estilo, singeleza, sensibilidade, estética, harmonia, por exemplo? Sensações que saltam aos turbilhões da mente do escritor, com o despertar do prazer da criação?
Não me considero uma expert no assunto. Sou escritora e me junto a tantos outros escritores que cruzam caminhos vários, movidos pela incerteza - ora pela razão, ora pela intuição, ora pela persuasão ou pela imparcialidade. E, ao final de uma obra escrita, anseiam por dividir todo este exercício de criação com o leitor.
Eu não indicaria a um aspirante a escritor o uso da Inteligência Artificial. Mas acredito que ela possa ajudar a iniciantes na escrita despretensiosa, para diários pessoais, por exemplo. Igualmente presta-se a treinar estudantes em composições escolares. Afinal, sempre terá um valor para alguém.
Para o escritor, o bom escritor, o uso estaria dispensado.