Um olhar sobre o escritor e sua arte

por Jacira Fagundes

Nas férias andei relendo uma obra que havia lido há alguns anos. Literatura de excelente qualidade. Mescla de narrativa entremeada de verdades inconfessáveis muito bem combinada com  uma espécie de ensaio a respeito de escritores  e seu imaginário. Um livro instigante cuja leitura  foi tema de casa para os integrantes do Grupo de Criação Literária que coordeno às quintas-feiras na Editora Metamorfose.

Citar tal grupo é dizer da satisfação de conviver com pessoas interessadas em literatura, tanto como leitores quanto como aspirantes a escritores cuja probabilidade de assim se tornarem,  constato a cada dia em que nos encontramos e trocamos experiências e saberes.

Mais do que a busca de conhecimento, os  participantes do grupo vivenciam a prática literária na  leitura e análise de textos de autores consagrados. Em paralelo, exploram o próprio imaginário em suas criações e realizam  constantes trocas dentro do grupo.

Mas falava eu da obra de literatura que lemos – meus alunos e eu. Eles, com  o encantamento que os fez, durante o recesso do curso, ultrapassar os limites nos seus  comentários  no WhatsApp.

O livro  em questão é “A louca da casa”, de Rosa Montero, que detém o Prêmio Grinzane Cavour de literatura estrangeira e o Prêmio Qué Ler de Melhor Livro Espanhol em 2004.

A autora aprisiona o leitor pelas palavras, por vezes sutis, por vezes fortes e nada complacentes. Acaba por tirá-lo  de seu conforto, na medida em  que trata,  sem qualquer desmerecimento ou idealização, daquele que faz da literatura seu ofício e da obra literária o seu produto final.

Fala de coisas como vaidade, poder, desejos que costumam consumir a mente dos escritores e os fazer escravos de títulos e concessões: “Às vezes o escritor é um integrante da comitiva, (lembrando a história do Rei nu) mas como se incha enquanto desfila.”  Aponta insucessos e outros dissabores inerentes ao processo de escrita e ao reconhecimento no meio literário ou de um público leitor.

Mas não só isso. Dá a nós – escritores –   igualmente muita fé e esperança, com base na nossa disciplina e  controle de emoções. Nas entregas em que nos submetemos ao nosso  daimon. No dizer de  Rudyar Kipling: “Quando seu daimon estiver no leme, não tente pensar conscientemente. Fique à deriva, espere e obedeça.”

Ou como esclarece  a própria autora de A louca da casa: “Porque os livros, como os sonhos, nascem de um território profundo e movediço que está além das palavras. E nesse mundo saturnal e subterrâneo reina a fantasia.”

E ainda o conselho: “Para escrever, vale a pena continuar sendo criança em alguma região de si mesmo. Vale a pena não crescer demais.”

E para encerrar este comentário, uma última citação de Rosa Montero: “ Regressemos assim à imaginação. A essa louca por vezes fascinante e por vezes furiosa que mora no sótão. Ser escritor é conviver felizmente com a louca lá de cima. E não ter medo de visitar todos os mundos possíveis e alguns impossíveis.”

Uma leitura indispensável para escritores que veem  na literatura a oportunidade de ir além da vida cotidiana e assim,  vivenciar  uma tórrida história de amor e salvação com aquela louca arrogante, atrevida e voluntariosa que carrega o nome de imaginário.

 

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