Leitura Urgente

por Jacira Fagundes

Não se trata de apologia. Dimensionar o valor do livro e da leitura e dizer do quanto a leitura foi e sempre será essencial na formação da humanidade e na sociedade em que se vive, é algo que vem sendo recorrente e  fundamentado, não só restrito aos projetos explicitamente educacionais, mas principalmente potencializado pelos diferentes setores ligados à comunicação.

Imprensa falada e escrita e empresariado em geral vem  concebendo um  espaço irrefutável para o livro, e consequentemente, para  a leitura.  Profissionais atentos às recentes oportunidades, tem se valido das ofertas culturais vindas desses setores  e criado seus próprios  e diferentes projetos de leitura nas escolas e fora delas. Instituições governamentais, como é de responsabilidade, encontram-se imbuídas em fazer o seu melhor. Hoje, são muitos os projetos direcionados ao fomento da leitura. Ainda não o suficiente, como exige e necessita a população, mas provavelmente estejamos a caminho.  O bom é o que o horizonte acena: ações públicas e privadas, unidas em prol da leitura, abertas à informação e formação do pequeno e jovem leitor.

E ele, o leitor, onde está? O que lhe interessa como leitura? Ou ainda: entre a população que cresce e estuda e trabalha e convive, há aqueles que fazem da leitura, um dever, um prazer, um hábito?

Com pesar, sabemos que a resposta é não. Com esperança, precisamos acreditar no sim.

Porque, no estado de crise e ameaças de todo tipo em que a espécie humana  depara, o hábito de ler e de buscar na leitura, não apenas o prazer, mas principalmente  o entendimento, poderá salvar a humanidade e também o planeta. Não se trata de apologia.

A literatura detém o poder da palavra. É a partir da palavra, que se dá a educação que há de se expressar também pela palavra - de compreensão, de fé, de responsabilidade e  de preservação da vida.

Já de algum tempo, escolas, bibliotecas, organizações  comunitárias e outras tantas iniciativas vem se dedicando intensamente à hora do conto. Aos contadores de história, deve-se a ampliação do espaço da oralidade, como tradição que atrai  crianças de todas as idades. Tenho presenciado como os pequenos, e também os maiores vem se habituando, com facilidade, a ouvir histórias.  Isto, sem dúvida, é muito bom.

O que é mau, é que tantos uns como os outros, estejam se distanciando dos livros e da leitura porque ouvir é menos trabalhoso. Daí que vamos, cada vez mais, nos afastando da leitura, seja ela grupal ou individual. A contação de história pode e deve acontecer da forma como vem acontecendo, em muitas ocasiões. Porém, é preciso intermediá-la com outra forma de chegar a história à criança – menos contada e mais lida. Uma forma que privilegie o livro e a leitura, que permita à criança a intervenção ao opinar, identificar-se, discordar, exemplificar, sugerir, questionar, duvidar, emocionar-se e posicionar-se perante os fatos frutos do imaginário, mas que guardam pouca distância do real.

O  livro, abrindo-se  a cada página, discorrendo as cenas na voz de um mediador de leitura que lê com emoção, com gestual apropriado e com pausas regulares, estará oportunizando a reflexão e o espírito crítico, ampliando a percepção de tempo e espaço, inserindo o pequeno e o jovem leitor, pouco a pouco, nas questões existenciais próprias do indivíduo e do mundo que o cerca. Mais adiante, se conquistará a autonomia, o buscar por conta própria – a aventura de ler porque é prazeroso, porque é do gosto e  principalmente,  porque é um   hábito que permanecerá pela vida afora.

Não poucas vezes, as questões complexas, consideradas tabus – como morte, separações e violência –  são abordadas nos livros, justamente como facilitadoras de discussões no seio da família e no meio escolar. A  leitura tem a capacidade de direcionar o sujeito a  melhores procedimentos e a escolhas criteriosas que priorizam a saúde emocional, social e moral da humanidade, inviabilizando o caos.

Não se trata de apologia, mas de salvação. E tem urgência.

A literatura é fenômeno criativo que representa o mundo, a vida e o homem por meio da palavra. Observar e respeitar diferentes pontos de vista e os vários discursos, oportunizar a reflexão e o espírito crítico, pensar, duvidar, questionar, discordar, ampliar a percepção de tempo e espaço, ampliar o vocabulário, são, entre tantos, os grandes benefícios que advém do diálogo entre leitor e obra literária.    

                

 

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