Contos

O Menino e o Bom Velhinho

Jacira Fagundes


Mamãe e papai faziam as últimas compras no shopping. Léo e Nina preferiram esperá-los na linda praça ornamentada para o Natal. E então aconteceu aquela conversa na frente dos dois – era como se fosse um sonho.

O primeiro a falar foi o velhinho.

– Você fica aí todo tempo deitado nesta caminha dura, sem um colchãozinho decente, não lhe doem as costas, Menino?

– Não. Estou acostumado. Você, sim, tão velhinho, aí sentado o dia inteiro, sempre posando pra fotos. Não queria estar no seu lugar.

– Não queria mesmo? Duvido! Você está é com ciúme.

– Não é bem ciúme. Me deixaram aqui no mesmo dia em que armaram esta sua cadeira enorme. Eu fiquei imaginando que só poderia ser para alguém importante – um trono. Só não sabia que era uma celebridade. As crianças só querem saber de você. Eu fico muito triste com esta indiferença.

– Pois deve ser triste mesmo. É que eu fico aqui só para agradar as crianças. E pra elas encomendarem os presentes.

– Mas elas não têm culpa. Aposto que nem meu nome elas sabem.

– Será? Mas você sabe quem sou eu.

– Claro que sei. Há meses que só se fala em você. Você está na TV, no jornal, nas lojas, em todos os lugares.

– Lá isto é verdade. E você aí vai ficar esperando que o povo se dê conta que é seu aniversário que está pra chegar? Mexa-se. Ponha a boca no trombone. Chame os seus amigos anjinhos, eles sabem tocar aquelas trombetas com perfeição, podem convocar um pessoal pra sua festa onde você é que será o homenageado.

– Disso eu ia gostar. De verdade.


– Opa, opa! Vamos ter que encerrar nosso assunto, Amiguinho. Vem vindo um bando de crianças com celulares; está na hora das fotos. Até mais tarde.

– Antes, posso lhe pedir um favor, unzinho só?

– Você manda, meu Menino.

– Eu queria que você levantasse do seu trono e passasse aqui pro meu lado e pedisse que o fotógrafo do shopping batesse uma foto sua e das crianças, comigo junto. Depois você imprime e me mostra. Combinado?

– Combinado.

– Legal! Você é mesmo o bom velhinho, Papai Noel. Vai ser meu presente de Natal. Obrigado!


Léo e Nina se olharam muito envergonhados. Eles haviam parado em cada ponto da praça para tirar foto com Papai Noel, apreciar os brinquedos, a árvore enfeitada e os muitos bichinhos espalhados. E que atenção haviam dado ao Menino Jesus em seu berço? Só uma olhadinha. E de longe.

Mas então combinaram. A festa de Natal com a família, este ano, seria diferente.

Na Noite de Natal, papai, mamãe, os avós, e até o cãozinho Bombom posaram junto ao lindo presépio montado ao lado da árvore.

Léo e Nina, toda vez que batiam uma foto, o aniversariante, feliz, enviava do berço um sorriso que todos retribuíam.

E Papai Noel, apoiado na parede, ia aprovando tudo com uma piscadela de olho.






 

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