Nesta semana comecei a ler o último livro publicado da Isabel Allende, Longa Pétala de Mar, que ganhei de aniversário. Já na terceira página me dei conta que já havia sido "abduzida" por ele. A escritora tem uma habilidade e delicadeza para descrever cada personagem e cada momento da história, que é como se você não precisasse ler as palavras, mas praticamente só "sentir" o livro.
Acompanho os trabalhos dela já há algum tempo, mas com este livro, decidi pesquisar sobre o processo criativo da Isabel para entender o que ela faz, quanto tempo ela escreve por dia, como se organiza, os métodos e estratégias que usa para passar as suas ideias ao papel. Você sabe, para ver se ela faz alguma coisa secreta que eu não faço e poder ser uma escritora brilhante como ela. Li vários artigos, escutei um podcast e assisti dezenas de vÃdeos. Ela é uma mulher fascinante, tem uma história de vida incrÃvel e um humor espirituoso (o meu tipo de humano preferido), então é muito fácil se perder nesta pesquisa.
Finalmente, depois de quase uma hora, encontrei um vÃdeo curto no qual ela respondia a pergunta-chave para o problema que eu estava tendo: "Qual o conselho que você daria a jovens escritores?"
Meus olhos e ouvidos se abriram por completo para aquele momento de extrema importância, quando eu receberia o "segredo" e seria "iluminada" no meu trajeto tortuoso da escrita. Eu estava pronta para aplicar aquele conceito para toda a minha vida e além, fosse lá o que ela pensasse ou acreditasse.
Então ela disse: "Escreva."
Pisquei duas vezes. Era impressão minha ou eu tinha acabado de receber um tapa na cara de Isabel Allende?
Sem perceber, ela continuou a falar tranquilamente: "Oras, se você quer ser um esportista, você treina todo o dia. Se você quer competir, você precisa treinar. E ninguém assiste o treino e ninguém se importa com o seu treino, mas se você não treinar, você não está preparado para competir. Como escritor, você precisa escrever todo dia e treinar. Para cada página bem escrita, você vai ter escrito vinte páginas que vão acabar no lixo. Mas não importa, é o seu treino."
Uma resposta óbvia e que eu já sabia o tempo todo. Nenhum truque para que eu pudesse superar a minha procrastinação ou um passe de mágica para me ajudar a escrever melhor. Isso não existe!
Claro que depois sentei direito na cadeira e comecei a escrever, aquela frase imperativa ecoando na minha cabeça. Escrevi outras coisas, mas escrevi esse artigo aqui também, para lembrar essa lição e para que outras pessoas que se identifiquem com a minha busca, parem por aqui e simplesmente: escrevam!
Ana Paula de Moura Souza é formada em comunicação social, trabalha com produção de conteúdo em Zurique e gosta de escrever contos e narrativas longas. Já publicou um livro, o Diário de Au Pair, e atualmente participa do Curso Livre de Formação de Escritores.