Conto X Crônica - um balanço
 



Conto X Crônica - um balanço

por Rubem Penz

Quando aceitei o convite do escritor Marcelo Spalding, diretor da Editora Metamorfose, para uma live denominada “Conto X Crônica”, já sabia ser a Copa do Mundo de Futebol nossa inspiração, não mais do que isso. Para quem assistiu, o gancho rendeu boas tiradas nas quais fizemos e tomamos gols – eu, inclusive, consegui a proeza marcar contra. Enfim, nos propusemos a informar e, ao mesmo tempo, entreter.

Porém, ao ler o comentário do querido João Luiz que principia com uma suspeita de placar arranjado e termina com um “Perdeste vergonhosamente!”, fiquei a ruminar as razões desta impressão tão severa quanto exclamativa. Daí a conclusão de ser o futebol uma metáfora inadequada para o embate entre estes dois gêneros de prosa breve. Afinal, no futebol vemos com uma frequência encantadora o mais fraco subjugar o mais forte.

Desconfio que a imagem do boxe seja mais adequada para pautar a disputa. Para fins de raciocínio, escolho convocar dois monstros em todos os tempos: Muhammad “Conto” Ali e Éder “Crônica” Jofre. Ambos estão no panteão da glória para quem conhece e admira o esporte. A pergunta é: qual dos dois o mundo fora do ringue cultua? É quando começo a explicar as questões que envolvem os gêneros.

Ao vestirem as luvas e se posicionarem em seus respectivos córners, para qualquer pessoa será evidente a diferença de tamanho e peso entre Muhammad e Éder. O primeiro, peso pesado, tem na balança a partir de 92,8 Kg e não há limite para mais. O segundo, quando competia no peso galo, marcava até 54 Kg e, no peso pena, até 57 Kg. (Opa! Neste momento do raciocínio começo a entender a escolha do Marcelo por mim para defender a crônica…)

Ao soar o gongo, a crônica poderá ser magnífica em movimentos pendulares, ter um jogo de pernas estupendo, desferir jebs numa sequência frenética, furar a barreira defensiva do conto inúmeras vezes, ser precisa em diminuir ou aumentar a distância e transpor o primeiro round com o rosto intacto. Todavia, nem toda a maestria no manejo das palavras fará algo mais do que cosquinhas no gigante conto. Ele que, a seu tempo – sem as urgências da crônica –, esperará o oponente se cansar de tanto escrever para publicar no dia seguinte.

No momento preciso, o poderoso conto soltará um único golpe e, com sorte, a crônica beijará a lona sem grandes sequelas. É um script antecipado por qualquer acadêmico do primeiro semestre do curso de Letras. Por isso, a vitória da crônica no famoso Prêmio Jabuti foi ser separada do conto – são dois bóxeres de pesos diferentes, ambos maravilhosos mas incompatíveis para o mesmo ringue: não é justo. Também a razão de o mundo inteiro conhecer os maiorais do conto, enquanto os cronistas são festejados apenas em suas aldeias e por críticos literários honestos (ou seja, capazes de julgar cada gênero em sua dimensão).

Confira o papo na íntegra:

 

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