Bacurau
 



Bacurau

por Marta Helena Xavier

Um soco no estômago.

Um grito no meio da noite escura.

Um zumbido que desacomoda os sentimentos.

Uma bofetada que nos joga ao chão.

Num futuro pouco distante, uma pequena cidade do sertão nordestino se vê ameaçada pelo desconhecido precisando se defender. Esta é a síntese do filme Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Lançado nos cinemas no final de agosto depois de ganhar o Prêmio do Júri no festival de Cannes e melhor filme nos festivais de Munique e Lima.

É uma aula de resistência onde uma comunidade, que respeita sua história, luta por sua sobrevivência dentro de um mundo hostil.

A partir da morte de uma moradora a comunidade descobre que sua cidade saiu do mapa e mortes começam acontecer. Logo chegam à conclusão que estão sendo atacados e precisam identificar o inimigo criando um meio coletivo de defesa.

Aos poucos vamos sendo impactados com uma violência muito real e próxima de nós. Algumas cenas têm o DNA de Tarantino. Impossível não sentir na pele tamanha alegoria com o nosso presente. Nossos sentimentos estão todos ali a nos sacudir e ao mesmo tempo a nos dar a mão, indicando um caminho para sairmos do hoje que nos espanta e paralisa.

A quantidade de simbolismos atirados na nossa cara nos desacomoda e inquieta. Ficamos como esfomeados diante de um banquete. Não sabemos usar tantos talheres e copos diante de nós. Acabamos comendo com as mãos, mastigando rápido, sem sentir o gosto por completo de cada iguaria.

A história termina e nos deixa com a sensação de precisar ver mais uma vez, fazer o resgate do que ficou para trás. Precisamos do silêncio, da pausa, da vírgula e do vácuo para nos recompor diante da ferida exposta.

Doem as entranhas.

Vai embora a noite.

A esperança cutuca o medo.

As feridas ardem no chão.

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br