Desde a pré-escola: a apropriação do sistema de escrita
 



Desde a pré-escola: a apropriação do sistema de escrita

por Micheline Flores

Nossas crianças chegam a pré-escola repletas de conhecimentos prévios e uma bagagem cultural trazida ao longo de seus primeiros anos.

Antes mesmo de entrar na escola, a linguagem escrita é reconhecida devido às funções sociais da língua, sendo que tais funções são facilmente reconhecidas e assimiladas por crianças cujos familiares têm contato com a escrita, oportunizando a interação da criança com esta.

Devemos considerar a concepção de escrita trazida pela criança, o que não significa concluir que o processo de aquisição de escrita seja espontâneo, mas a escola deve relevar as informações socialmente distribuídas no meio em que o aluno vive.

Conforme Fernando Hernandéz , em Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho, “Que para continuar aprendendo é necessário um conhecimento prévio é indubitável, mas sua natureza não tem que ser apenas acadêmica, também pode ser de senso comum, fruto da experiência cotidiana ou relacionado com outros conhecimentos organizados não necessariamente científicos”.

Cabe aos professores valorizar as primeiras produções, tentando compreender o que essa criança escreveu, dando-lhe o direito de se apropriar do sistema de escrita a partir de um processo de construção e representação.

A comunicação verbal também é muito presente na sociedade e tem sofrido transformações nos últimos anos, através do uso de celulares não só pelos adultos, sendo utilizados pelas crianças de forma precoce. Nesse sentido, nos cabe questionar: como atrair os alunos para a leitura e a escrita, em um mundo onde o espaço verbal tem mais destaque?

Como educadores, temos que redimensionar a experiência da escrita como uma forma prazerosa de expressão. Uma das maneiras a serem adotadas pode ser a leitura encantadora para seus alunos, sem a cobrança da parte da gramática ou ortografia. A preocupação com a grafia das palavras muitas vezes interrompe o processo criativo, e a criança fica podada de expressar o que é importante para ela.

Precisamos mostrar para os alunos que podemos ler pelo simples ato de saborear uma história, suscitar a curiosidade, transbordar outro conhecimento. Ler de forma espontânea, oportunizando críticas e questionamentos, trabalhando o gosto pela leitura e pela escrita.

As crianças têm curiosidade diante de um livro, precisam se envolver; tocar, abrir, fechar, interagir com o objeto e com a leitura, sendo sujeitos ativos na assimilação desse conhecimento. A leitura não é apenas decodificar as palavras, vai muito além disso, envolve imaginação, criatividade, é uma forma interpretativa de cada realidade. Para Emília Ferreiro, em Com todas as letras, “a língua escrita se converte num objeto de ação e não de contemplação. É possível aproximar-se dela sem medo, porque se pode agir sobre ela, transformá-la e recriá-la. É precisamente a transformação e a recriação que permitem uma real apropriação”.

Leitura e escrita devem ser trabalhadas em conjunto, oportunizando ao educando liberdade para escrever e assim, adquirir o gosto pela escrita. As duas se complementam, sendo um processo contínuo em construção.

Precisamos reconhecer que a diversidade cultural está inserida no nosso mundo e devemos colaborar significativamente para o enriquecimento desta variedade, que não é só cultural, mas também social e histórica.

O professor necessita estar atento às curiosidades para direcionar o interesse propiciando uma situação voltada às motivações do aluno, respeitando o tempo que cada um necessita e contribuindo para a construção do processo de escrita e leitura.

 

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