Às vezes acordo com a boca seca que a vida é amarga.
Às vezes a chuva é repentina e me pega sem abrigo.
Às vezes bate uma agonia lenta e o vento arrasta qualquer esperança para muito além do longe.
Mas é verão quando chegas e, se chove, a chuva é de estrelas.
Há um calor de verão na mornura dos teus pelos. Como se trouxesses, em meio à tempestade, estrelas e calmarias.
É pouco, porque num instante o dia fica feio. Para no outro, o sol ser de janeiro.
Ao mesmo tempo, o tempo de um minuto, o coração desalenta, quase arrebenta.
Há uma adaga que afaga e um punhal que alimenta. Há um azul que transpira o que a tarde inventa.
Quando tu chegas de amor a pele sufoca. Tanto, tanto, tanto, que eu morro do amor que me toca.
Quando vais embora, quem baterá a porta? Quem abrigará o lírio do olhar? Quem amainará o sono da pedra? Quem irá impedir o silêncio de atravessar janelas e se assentar na sala?
Quem tem medo de amar com receios de sofrer passa o tempo se escondendo. Eu não. Quero que o amor estraçalhe, que a paixão descarrile, que a palavra nunca atrapalhe. Por que vens de longe, de um mundo que é encantado. E chegas no meu mundo de sombras, no meio das trevas, e a tua lua e os teus mistérios se debruçam sobre mim. E eu sonho que a única razão da vida é existires, que não há razão nenhuma se resistires. E eu me pergunto por que demoraste tanto que eu já estou tão pouco?
Me pedes que eu fale da vida e a vida não tem respostas. Sinto um perfume de açucenas vindo das profundezas do mar. Perfume que não se dá. Vida que não se faz.
Quem colocará os guizos na manhã? Quem decifrará a palavra nas linhas da pele? Quem coserá a seda quando o tempo se romper? O amor?
Te levo nos desvarios do sonho e recordo os teus azuis. Te carrego comigo na garupa do meu coração. Não há magias, não há folias que eu não faça: basta o teu coração pedir. Não há pranto que não seque quando olhas para mim. O coração dá pinotes, o dia dá cambalhotas e o mundo parece uma festa que não acaba jamais.
Teu corpo é minha pátria. E dele me sinto exilado. Porque vens de longe, eu sei. De um tempo de sobras. Poderias chegar de amor, mas vens feito sereias trazendo a morte em seus cantos.
Vens cansada e o que me resta é adormecer-te. Fazer-te velejar pelo mar da lua cheia em seu barco de cristal.
Ouço o som deste mar, som que desacalma, que desconsola; ouço o primeiro dos gemidos que ao coração chegasse.
Grito, peço e canto: deixa que o coração chacoalhe, que a manhã desembrulhe, que a canção nos agasalhe!
Quem disse que eu sei viver sem você?
Arte difÃcil, rara, há muito tempo não lia um verdadeiro poema em
prosa como este, gênero literário tão esquecido desde Bandeira,
Rimbaud, Drummond, Anibal Machado, Baudelaire, P.Mendes
Campos... Cumprimentos Napp pela elegância, pelo lirismo,
pelo rÃtmo instintivo... Abraço. Paulo.
Paulo Roberto do Carmo, Porto Alegre / RS 05/10/2011 - 14:13
Arte difÃcil, rara, há muito tempo não lia um verdadeiro poema em
prosa como este, gênero literário tão esquecido desde Bandeira,
Drummond, Mendes Campos, Baudelaire, Rimbaud, Anibal Macha-
do... cumprimentos Napp pela elegância, pelo lirismo, pelo ritmo
instintivo... Abraço. Paulo.
Paulo Roberto do Carmo, Porto Alegre / RS 05/10/2011 - 14:02
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