Escrita
A bagunça da escrita
José Carlos Laitano
Lembro que, quando era guri, mudaram as regras do português. Foi complicado. Sempre é complicado. Nem lembro das mudanças, parece que retiraram ou trocaram letras, recordo apenas que gastei um bom tempo para acostumar-me com a novidade.
Há poucos anos, nova mudança, agora incluindo hÃfen e acentuação. Para escrever, seguidamente abro o livro das novas regras ou consulto dicionário. Microondas, microndas ou micro-ondas? Responda rápido. Conseguiu?
Vamos nos acostumando, até porque estamos no perÃodo de graça, no qual podemos utilizar a fórmula nova ou a antiga, até 2016.
A indústria dos livros, principalmente, sofreu com a mudança das regras. A quantidade de livros editados e que ainda não foram comercializados está condenada à fogueira. Todos os textos passaram pela revisão e foram reeditados. Ou será re-editados? Ou pode os dois modos?
Como sempre podemos piorar as coisas, surge a notÃcia de que o Congresso Nacional pretende rever as regras. Mudar a mudança. Complicado, nem bem assimilamos o novo português e já indicam ao jovem que nem vale a pena decorar as novas regras porque mudanças vêm por aÃ.
E, finalmente, a turma dos populistas teve a brilhante ideia de que devemos escrever como falamos.
Poderia escrever um livro mostrando o tamanho da bobagem.
Ressalto apenas um dado: a importância da leitura.
É pela leitura que introjetamos o conhecimento e a cultura de forma completa e dedico um capÃtulo inteiro a esse assunto no meu novo livro Criação Literária, da Ideia ao texto.
Resumindo num parágrafo: pela leitura realizamos o processo de transformação do código verbal para a forma de imagem e é com imagens que alimentamos nossa mente. E tem a velocidade da leitura que cada um adapta a seu modo. E ainda: lemos por pedaços e não juntamos letras ou sÃlabas.
A cultura de ouvido é aquela que resulta de escutar uma palavra ou ideia e repeti-la. Como existem muitas oportunidades de escutarmos errado (outro capÃtulo do livro), o erro, transformado em imagem, vai para a mente e pode alterar, para pior, as informações que já possuÃmos.
É comum o analfabeto ou analfabeto funcional, ou mesmo pessoas que não costumam ler, pronunciar errado as palavras, por vezes muito comuns, e isso porque entenderam errado o escutado. Tipo: portantu, preserverança. E como falta a leitura, a troca de dois esses por cedilha, também é comum e lá vem a preserveranssa.
Até mesmo nas melhores famÃlia.
Então estamos assim: um novo regramento, já em prática na real mais as regras antigas que ainda não foram banidas mais a proposta que está sendo ideada por alguns luminosos do Congresso Nacional (talvez não tenham sido reeleitos, que Deus os tenha) mais e a defesa de tese de populistas de que devemos nivelar por baixo.
Sem mencionar que o Brasil, por seu tamanho e diversidade, apresenta dialetos e expressões diferentes no Nordeste, Amazônia ou Rio Grande do Sul. Tangerina e bergamota é um exemplo.
A lÃngua é fator importante de integração nacional. Para preservação da unidade nacional. A não ser que queiramos separar o sul do sudeste e norte-nordeste. Essa questão não está em pauta mas, por todas ou quase todas as razões, RS, SC e PR forma uma unidade. Que até poderia abranger São Paulo. Mas do Rio para cima começa outro paÃs. Isso não está em discussão. Nem eu, nem meus netos verão a improvável dicotomia.
Então, se não é para fracionar, que se preserve a unidade.
O remédio para as dificuldades da linguagem formal é a educação.
11/02/2015
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José Carlos Laitano
José Carlos Laitano é escritor, colunista em jornal e professor em oficina literária. Possui 23 livros publicados nos gêneros romance, contos, poesia e ensaio.
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