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Literatura

Silêncio unânime
Sergio Napp

Nada mais me espanta: enfrentei a morte de peito aberto, dei uma boiada pra não sair de uma briga, quase morri de amores. Surpresas deixo para os desavisados.

Por isso é o encantamento o que me assoma ao encontrá-lo na biblioteca, sentado na cadeira de espaldar alto, olhando, com seus olhos sem vida, a vida que o horizonte azul desenha pela janela. Borges!?

E não me olhe com a cara de quem se julga diante de um fantasma!

Antes que possa lhe responder, atalha: Não estou aqui para trivialidades. Vim em busca de boa literatura.

Vou à estante apanho o livro e o abro: Na esquina da nossa casa passava o trem que vinha da Argentina. Naquela manhã de dezembro (perto das onze horas) na cidade da fronteira iluminada pelo azul de um sol tão alto que aumentava a imensidão do pampa e se refletia no rio a deslizar debaixo da ponte, o trem abriu, para o guri de calças curtas e cabelo espetado, as portas do palácio onde convivem júbilo e terror.

Entre um comentário e outro, uma pausa para reflexão, a tarde vai se despedindo, o sol pinta de vermelho e sonho o vão da janela, e eu chego ao parágrafo derradeiro: Fiquei ali escutando os gritos, os latidos da cachorrada distante, os infinitos sussurros da água e da noite.

Muito bom. De quem é?Tabajara Ruas, respondo. Muito bom, mesmo.

Criaste um mundo aqui em Passa Passa Quatro, amigo velho,continua, e nele tentas te esconder. O meu, criei-o em meu interior e é nele que busco a paz.

Faz uma pausa e prossegue: Toda casa é um candelabro onde as vidas dos homens ardem como velas isoladas. Mas não devemos e nem podemos nos enganar: a pedra é sempre pedra, o tigre é sempre tigre e o homem, por mais que tente, é sempre ele mesmo.

Viro-me para acender o lampião que o escuro tomou conta do mundo e ao me voltar já não o vejo. Ou serão meus olhos que se esqueceram de guardá-lo?

No silêncio unânime que se faz é como se estivéssemos na primeira hora do sempre e tudo precisasse ser descoberto. Ouve-se tão somente a sua voz, grave e pausada: O tempo é a substância de que sou feito.

Pampianas/ZH


26/09/2013

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  Sérgio Napp

Sergio Napp, nascido em Giruá/RS em 03.07.39, é engenheiro civil, escritor e letrista. Premiado em festivais de música no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais, sendo autor de um dos clássicos do regionalismo gaúcho, Desgarrados, em parceria com Mário Bárbara. Foi Diretor da Casa de Cultura Mario Quintana entre 1987/1991, 1997/1998 e 2003/2007, tendo coordenado a equipe responsável pela reciclagem do Majestic Hotel em Casa de Cultura Mario Quintana.

sergionapp@terra.com.br
www.sergionapp.com


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