artistasgauchos












Desenvolvido por:
msmidia

Literatura

Dom Luís
Sérgio Napp

Uma bola de pelos, pulgas, alguns ferimentos, uma perna fraturada, um corte na orelha. Um olhar de carências. E foi este olhar que me conquistou. 
 
Acolherei-o de pronto. Tratei de seus ferimentos, tosei-lhe o pelo, enfaixei-lhe a perna. Dei-lhe comida e carinho. Ele retribuiu: à medida que se restabelecia mais se grudava em mim. Para onde eu me dirigisse, ele me seguia. Os olhos de carências foram substituídos por olhos de carinhos. Este é o Dom Luís. Dei-lhe este nome por seu porte e sua fidalguia. Dizem por aí que é um golden retriever, seja lá o que isto for. Porte avantajado, pelo de mel, lanudo, brincalhão que dá gosto. Gosta de água como poucos. Quando vamos ao riacho curar a lerdeza do dia é o primeiro a entrar na água. E o último a sair. 
 
Pula em cima de mim, me lambe, o rabo é um espanador de tanta alegria. Um companheiraço. É de vê-lo correndo atrás das galinhas, não para pegá-las, mas para se divertir com os cocoricós espavoridos. É de vê-lo com a lebre! 
 
Ela o provoca se aproximando ao máximo. Ele lhe dá corda aguardando-a deitado, os olhos brilhantes, língua de fora. Num repente soltam a correr. Em algumas vezes, Dom Luís imobiliza a lebre com seu corpo. Aí, a fareja, lambe, depois a larga, que foge estabanada. Para voltar no dia seguinte a provocá-lo. 
 
Já aconteceu da lebre trazer-lhe uma cenoura de presente e ele presenteá-la com um pouco de ração. É de se ver o silêncio e a atenção em que ele se põe quando me vê imerso folheando um livro ou matutando minhas tristessências. 
 
Há dias em que saímos catando as pitangas que a vida oferece. Há noites em que, se estamos na rede, cuidamos os vaga-lumes em suas danças de mistérios. Ele me defende se me atacam. Ele me consola se eu choro. Ele me recolhe se esqueço de mim e me perco. Quando pequeno dormia próximo ao fogão de lenha. Cresceu um tanto e se arranchou à porta do quarto. Hoje dorme no quarto, num pelego aos pés da cama. E adivinho, breve estará sobre a cama. O que não me desagrada. A um amigo de toda a vida, companheiro de estrada, não se nega pouso.

18/06/2013

Compartilhe

 

Comentários:

Lindo, parabéns!
Ecylda, Porto Alegre-RS 03/07/2013 - 00:23

Envie seu comentário

Preencha os campos abaixo.

Nome :
E-mail :
Cidade/UF:
Mensagem:
Verificação: Repita os caracteres "401312" no campo ao lado.
 
  

 

  Sérgio Napp

Sergio Napp, nascido em Giruá/RS em 03.07.39, é engenheiro civil, escritor e letrista. Premiado em festivais de música no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais, sendo autor de um dos clássicos do regionalismo gaúcho, Desgarrados, em parceria com Mário Bárbara. Foi Diretor da Casa de Cultura Mario Quintana entre 1987/1991, 1997/1998 e 2003/2007, tendo coordenado a equipe responsável pela reciclagem do Majestic Hotel em Casa de Cultura Mario Quintana.

sergionapp@terra.com.br
www.sergionapp.com


Colunas de Sérgio Napp:


Os comentários são publicados no portal da forma como foram enviados em respeito
ao usuário, não responsabilizando-se o AG ou o autor pelo teor dos comentários
nem pela sua correção linguística.


Copyright © msmidia.com






Confira nosso canal no


Vídeos em destaque

Carreira de Escritor

Escrevendo para redes sociais


Cursos de Escrita

Cursos de Escrita

Curso Online de
Formação de Escritores

Curso inédito e exclusivo para todo o Brasil, com aulas online semanais AO VIVO

Mais informações


Cursos de Escrita

Oficinas de escrita online

Os cursos online da Metamorfose Cursos aliam a flexibilidade de um curso online, que você faz no seu tempo, onde e quando puder, com a presença ativa do professor.

Mais informações