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Literatura

A poesia nunca morrerá. E os poetas?
Sérgio Napp

Poetas

 
Preparo café quando percebo o homem em seu cavalo. Vem de manso, se aquerenciando como se buscasse um algo indefinido. Olha o campo, o correr do riacho, os pássaros de galho em galho. Parece alheio a tudo, embora tudo lhe diga alguma coisa. Só pode ser um poeta, penso enquanto dou uma dentada no pão.
 
É o velho Rillo, com seus ares de bom moço e sua calma de tranqüilidade.Vem de São Borja me convidar para o Festival da Barranca.
 
Mal apeia e já me abraça enquanto fala: Mas vivente, tu te escondes tanto que fica difícil de te achar. Campereei um bocado por este mundéu. E depois, não há como se comunicar contigo que este lugar onde te arranchas carece de quase tudo. Ou se vem ou não vais.
 
Sorrio: Tenho tudo aqui, amigo Rillo. Tudo de que preciso e mais um pouco.
 
Vamos até a biblioteca e, enquanto se assenta, ofereço-lhe água fresca da cacimba. Procuro, entre tantos, um livro de que não me afasto. Abro-o sobre a mesa perto da qual estamos e o folheio a esmo.
 
“A palavra é meu barro / material de ofício”. “Parda é a massa em minhas mãos. / Eu a trabalho / como quem toca os araçás de um seio”. “Eu faço a noite quando quero lírios / para fazer pastar minhas estrelas”. “Há um pássaro em nós / e suas penas. / Nas penas que há em nós / as suas asas”. “É preciso, Eduardo, / é preciso urgentemente, / que te capacites que o homem que faz a máquina / jamais fez uma flor”. “Vou te mandar pelo Correio / registrado, / este domingo de província, / colhido como um fruto ao acaso de tantos / na minha antiga cidade de São Borja”. 
 
Eu estava lá, no restaurante, quando o homenageamos pelos seus trinta anos de poesia. Terei dito de minha admiração? Com certeza, não, que somos feitos de um barro especial que nos impede de expressar afetos. 
 
Lembras, Rillo? Terá valido a pena?, ele pergunta. Eu o olho com olhos dizentes: Tens alguma dúvida? Só valeu, amigo. E quanto!
 
Affonso Romano de Santanna afirma, e eu concordo, que a poesia nunca morrerá porque é uma fatalidade do espírito humano. Pena que aos poetas isto não se aplique.

06/05/2013

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  Sérgio Napp

Sergio Napp, nascido em Giruá/RS em 03.07.39, é engenheiro civil, escritor e letrista. Premiado em festivais de música no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais, sendo autor de um dos clássicos do regionalismo gaúcho, Desgarrados, em parceria com Mário Bárbara. Foi Diretor da Casa de Cultura Mario Quintana entre 1987/1991, 1997/1998 e 2003/2007, tendo coordenado a equipe responsável pela reciclagem do Majestic Hotel em Casa de Cultura Mario Quintana.

sergionapp@terra.com.br
www.sergionapp.com


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