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Literatura

Passa Passa Quatro
Sergio Napp

Passarim quis pousar, não deu, voou, o tiro partiu, mas não pegou, Passarim de volta então me diz: por que eu não fui feliz? Me diz o que eu faço da paixão que me devora o coração? (Tom Jobim).

Esse é gênio. Eu sou apenas mais um perdido nesta imensidão de campo. Que eu mesmo me deixei perder. Eu sou um que mais observa do que vê, que mais lê que escreve. E se me perdi foi porque quis. Se escolhi este descampado para viver, estas lonjuras que meus olhos vêem todo santo dia, este silêncio que me acrescenta tranqüilidade, foi a opção que melhor me pareceu depois de tantas andanças e aventuras. Onde fica Passa Passa Quatro? Num território vago e distante, entre as terras missioneiras. Aqui ergui meu rancho com as próprias mãos. Certo conforto, nada de mais: sala ampla, mesa, cristaleira, fogão, pia; um quarto simples e campeiro; e o maior tesouro, minha biblioteca. O melhor de tudo: largas janelas por onde distingo a amplidão. Os que chegam e partem. As árvores e seus pássaros. O vento e suas cantigas. Meu corpo se desmancha em cansaços, meus olhos, não. Que meus olhos capturam este mundo de manhã à noite como se fosse dádiva que o Senhor lá do alto tenha me permitido antes que a velha senhora me carregue. Quem sou? Ao certo não sei. Tenho nome? Não sei nem se existo ou se sou uma ficção, uma sombra que se deixa em sua cadeira de espaldar alto a escutar o silêncio. À noite desligo o gerador e me pego com um lampião ou uma vela. Gosto da nudez do escuro. Do tempo de ouvir pirilampos.

Coaxar de sapos. Conversas de corujas. Há o momento em que prescindo da luz artificial e fico com a das estrelas. É o momento do sonho. Das lembranças, Dos cismares. Dos vaga-lumes. O brilho que encontro nas estrelas nunca achei na vida. Talvez por isso me apascente tanto olhá-las. Passado um tempo volto à minha vidinha que, embora pequena e ignorada neste mundo sem fim, é minha e cabe enfeitá-la. Agora, por exemplo, observo as formigas. Que insistem em cavar túneis por debaixo do rancho. E lembro Dias Gomes. Que estas formigas saramandeiras não escavem tanto o chão a ponto de derrubar o rancho.


28/03/2013

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Comentários:

Sérgio Napp, queria te dizer que teus textos publicados no espaço Pampianas já devia ser teu por definitivo. São textos lindos que me fazem evocar lugares e fatos que nunca vivi, mas que me incluo pelo humanismo e beleza que eles me passam. Um abraço e minha admiração pela tua literatura.
Celia Maria Maciel, Porto Alegre/RS 08/04/2013 - 16:36
Mais um grande poeta, compositor e escritor SÉRGIO NAPP. Estou conhecendo agora sua trajetória de de belas e criativas palavras. Eu sou um simples compositor, com apenas 04 letras gravadas por cantores gaúchos, praticamente vivo no anonimato com mais de 360 composições e aos 68 anos de idade. Abaixo trechos de algumas composições. TERRA VIVA ESTÁ CHORANDO INDEFESA AS NOSSAS FALHAS FLORESTA ESTÃO TOMBANDO COM QUEIMADAS E NAVALHAS. =============================== NINGUÉM ME TIRA DAQUI NEM COM TEMPORAL DE RAIO FOI NA GROTA QUE EU NASCI MORRO E DO CAMPO NÃO SAIO. ===============================
José Vanoci Alvarez Marques, Camaqu - RS. 28/03/2013 - 21:04

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  Sérgio Napp

Sergio Napp, nascido em Giruá/RS em 03.07.39, é engenheiro civil, escritor e letrista. Premiado em festivais de música no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais, sendo autor de um dos clássicos do regionalismo gaúcho, Desgarrados, em parceria com Mário Bárbara. Foi Diretor da Casa de Cultura Mario Quintana entre 1987/1991, 1997/1998 e 2003/2007, tendo coordenado a equipe responsável pela reciclagem do Majestic Hotel em Casa de Cultura Mario Quintana.

sergionapp@terra.com.br
www.sergionapp.com


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