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Literatura

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Sérgio Naap

O mar, à minha frente, é de um azul melancólico. Adiante, se transforma em verde taciturno. Ao contrário do sol acalenta, com sua luz e seu calor, toda a extensão da praia. Ou estarão em mim estes sentimentos confusos?
A poucos metros, uma garota, sentada sobre a saída de praia, lê Martha Medeiros. Uma lancha vermelha brinca sobre as ondas dividindo as águas agitadas, deixando um rastro de espuma.

O que esconde o mar? O amor se esconde no mar?
Uma pomba, vinda não sei de onde, pousa na areia e parece, com seu olhar, me dizer alguma coisa. Talvez traga notícias de onde eu quero chegar. Talvez onde eu quero chegar seja um lugar impossível. Quem sabe a pomba me olhe tão somente buscando comida. Quem sabe nem haja esta pomba que veio voando na tarde. Talvez sejam meus olhos ansiosos por uma pomba que nunca chegue.
O sol, cansado de tanto iluminar o dia, se esvai pela tarde. Ao longe, a ilha se escora no fio do horizonte.
O que esconde o mar? O amor se esconde no mar?

Talvez na ilha em frente se esconda quem eu quero encontrar. Existirá este alguém? Estará na ilha este meu querer, agitando um lenço vermelho, fazendo sinais de fumaça, gritando a plenos pulmões sem que meu coração melancólico e taciturno perceba?
Uma garota com sua saída de praia e a ilha de onde alguém me faz sinais se deslocam no fio do horizonte. Martha Medeiros, ao longe, passeia na lancha vermelha que singra as águas até se perder de vista.
O mar é feito de quê? De quem é feito o amor?

A pomba, cansada de esperar que eu a entenda ou lhe alcance comida, voa e se perde no dentro do anoitecer.
As luzes, quando acesas, devolvem o dia à praia. Por ela caminho. Misturo-me às gentes. Há quem jogue futebol. Há quem faça a sua caminhada diária. Há quem se encontre por acaso. Há quem sente em um quiosque para contemplar o que ainda se vê do mar. Da moça, da lancha, da pomba os olhos não mais sabem. Só o coração os reconhece.

A saudade me assalta e eu me descubro sozinho. Saudade de algo indefinido. Saudade de afagos, de beijos, de tudo o que se perdeu no tempo e que, agora, me assume exigindo troco. Tenho as mãos vazias de tocar. A alma vazia de sentir. Os olhos vazios de ver. Sabem os homens do amor que eles carregam consigo, amor que eu deixei em algum ponto deste mar? O quanto me reconheço neste mar, nesta noite, neste momento em que não sei de mim?

É um instante fugaz, tênue, que se esboroa. O suficiente para que a pergunta se faça: o que sei do amor? A resposta é pronta, direta, amarga: do amor eu conheço as histórias que a vida ensinou.


06/09/2010

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Comentários:

Olá Sérgio, navegando pela internet encontrei este texto maravilhoso. Fiquei emocionado, pois conheci minha esposa (Neiva), em Tramandaí (1984) quando era salva-vidas, contratado pela Brigada Militar. Namoramos, noivamos, casamos e temos dois filhos maravilhosos. Eduardo 14, e a Juliana (11). Lá se vão mais de 20 anos. Quando meus filhos nasceram já estava trabalhando na nossa querida Itapuí. Era e ainda é muito trabalho. Nossa não vi direito os meus filhos crescerem, sempre trabalhando em jornadas esportivas e na cobertura de festivais pelo Rs. Dada a qualidade do teu trabalho, espero que retornes em breve à nossa Moenda da Canção. Grande abraço e sucesso maior.- Claudinir Müller.
Claudinir Fernandes Müller, Santo Antônio da Patrulha/Rs 06/09/2010 - 23:28

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  Sérgio Napp

Sergio Napp, nascido em Giruá/RS em 03.07.39, é engenheiro civil, escritor e letrista. Premiado em festivais de música no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, tem mais de cem trabalhos gravados por artistas locais, nacionais e internacionais, sendo autor de um dos clássicos do regionalismo gaúcho, Desgarrados, em parceria com Mário Bárbara. Foi Diretor da Casa de Cultura Mario Quintana entre 1987/1991, 1997/1998 e 2003/2007, tendo coordenado a equipe responsável pela reciclagem do Majestic Hotel em Casa de Cultura Mario Quintana.

sergionapp@terra.com.br
www.sergionapp.com


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