Gosto muito de contos e desenvolvo uma fixação temporária por alguns autores. Durante este processo quero comprar todos os livros que encontro, vejo livros do autor em todos os lugares. Isso passa, ou melhor, mudo de foco, mas não deixo totalmente de lado minhas preferências anteriores.
Poe, Horácio Quiroga, Josué Guimarães, Henry James, Tchekov e Mia Couto são meus preferidos. Entre eles outros, um conto aqui outro ali. Não é a fama que os precede que me faz admirá-los, mas o estilo, a maneira como seus personagens são cruéis, o modo como usam suas metáforas, o feitiço das palavras que hipnotiza a cada página.
Recebi de presente o livro da amiga escritora Jacira Fagundes e tive dificuldade para dizer tudo que ela realmente merece que seja dito valorizando seu trabalho preciso e bem elaborado.
Nos contos da Jacira em No limite dos sentidos encontrei um pouco de tudo que gosto nos meus contistas favoritos. Fiquei com água na boca lendo e imaginando a baba de moça, o pudim de queijo feito com receita dobrada que enfeitava a mesa e adoçava as lembranças no antigo romance de Luca e Bilu, pois ela trouxe para as palavras os sabores e aromas da culinária e a pimenta do namoro escondido do casal.
A melancolia na figura da dona Vicentina que assim era chamada por ser mulher do Vicente e apenas isso, que ao vê-lo morrer desfez-se como a casa, aos poucos, perdida entre os ciprestes e o cemitério.
No carrinho de rolimã o inocente amor da menina pela amiga Carlinda e tantas outras mulheres amadas ou incompreendidas.
O professor que se protege da esposa entre ratos e sapos no escritório. A cada conto dos vinte e três que compõem o livro um novo olhar da autora, um toque que aprendeu desde suas primeiras oficinas literárias até sua publicação solo em 2005, o infanto-juvenil – Um desafio para Manoel. Olhar que vem aprimorando com suas vivências e leituras. Hoje já multiplica em forma de seminários, oficinas e palestras seu aprendizado.
No limite dos sentidos traz um toque especial da mulher Jacira Fagundes, seu olhar perante a vida e a escritura dos autores que admira.
É uma amostra dessa fase que vive a autora e que certamente será temperada constantemente com novos sabores literários e concederá em breve outro livro de contos, sua especialidade.
01/06/2010
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Comentários:
Eu não sou artista. Sou apenas uma amiga que te admira. Já li teu livro. No mesmo dia que me deste de presente. Gostei. Posso te dar uma dica? Escreve sempre. Bj Maira Knop, Porto Alegre06/06/2010 - 14:43
Muito bem captado, pela ótima Ana Mello, o universo e os sentidos em que se move a literatura de Jacira Fagundes. Beijos às duas,e um tributo à generosidade entre colegas que se admiram,
Valesca valesca de assis, Porto Alegre/RS02/06/2010 - 09:40
Sou amiga da Jacira Fagundes (escritora) gosto muito do que ela escreve.Admiro e respeito seu trabalho e parabenizo-a. Ivanise Mantovani, Porto Alegre/RS01/06/2010 - 13:36
O olhar de uma escritora sobre o olhar de outra. Ler e escrever, dois polos de um mesmo ato frente à literatura.
Que bom , Anna. O quanto restaura nossa alma de escritor a nossa obra à disposição de novos e instigantes olhares.
Obrigada. Jacira Fagundes, Porto Alegre / RS01/06/2010 - 13:27
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